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As duas crises do Brasil

Como se não bastasse a crise provocada pela disseminação do novo coronavírus, que tem ceifado a vida de milhares de brasileiros, sobrecarregado o já fragilizado sistema de saúde e aumentado a desigualdade e a pobreza em todo o país, agora, o Brasil também tem que lidar com outra crise, uma de natureza política, causada, em boa medida, pelo despreparo da nossa classe dirigente.

E um dos sintomas mais visíveis e lamentáveis dessa crise política é a instabilidade percebida no Ministério da Saúde, que em menos de 30 dias será comandado pelo seu terceiro ministro. O primeiro, Luiz Henrique Mandeta, foi demitido após contrariar as vontades do presidente. O segundo, Nelson Teich, se demitiu por motivos semelhantes na última sexta. E o terceiro, ainda está para ser escolhido.

A gravidade dessa situação se revela pela importância que um ministro da Saúde tem como a principal autoridade federal cuja responsabilidade é a de coordenar os esforços do país para combater um vírus que tem provocado a maior crise sanitária da História, cujos efeitos se fazem sentir não apenas na área da Saúde, mas também na Economia, na Educação e na Assistência Social.

E o pivô dessa crise que assola o Ministério da Saúde é uma guerra de narrativas travada em torno de um vírus sobre o qual ainda pouco se sabe. De um lado, temos as informações confiáveis, produzidas, avaliadas e confirmadas por cientistas ao redor do mundo. Do outro, temos as fakes news, as superstições e as teorias da conspiração que animam uma parte da nossa classe política e do seu eleitorado.

Enquanto a temperatura sobe em Brasília, o sentimento de luto se espalha pelo restante do país, onde o número de mortos cresce cada vez mais, infligindo dor em milhares de famílias que, por conta do alto potencial de contágio desse vírus, não podem sequer realizar um velório para se despedirem dos seus entes queridos.

Seja qual for o novo nome escolhido para comandar a pasta da Saúde, é indispensável que o futuro ministro, ou ministra, adote uma postura técnica e atue em conformidade com os protocolos da área e devidamente apoiado em evidências científicas. Da mesma forma, é necessário que o presidente da República crie as condições necessárias para que esse trabalho seja desenvolvido sem mais interrupções.

Em tempos difíceis como estes que temos vivido, é fundamental que os nossos representantes coloquem de lado, pelo menos por enquanto, os seus projetos políticos de poder, e concentrem seus esforços naquilo que realmente importa, que é salvar vidas, atuando de modo a ampliar a capacidade de atendimento da rede pública de saúde e traçar uma estratégia que permita reduzir ao máximo o número de novos mortos todos os dias.

1 Minuto com Sérgio Machado (Foto: Marcello Casal Jr.)

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