Home Itamar Filho A necessidade de pensar um novo estilo de campanha eleitoral

A necessidade de pensar um novo estilo de campanha eleitoral

A pandemia da Covid-19 escancarou a quem ainda não via, que nesse mundo, nessa realidade, nada é perene, perpétuo ou imutável. As relações não são, as construções sociais não são, a ciência não é. Então por qual motivo não pensamos em alternativas às estruturas já tão engessadas e carcomidas pelo envelhecimento do tempo? Infelizmente, pela forma que fora constituída, nossa sociedade acha mais cômodo manter velhas práticas ao tentar novas, porém, situações que exigem mudanças ocorrem de tempos em tempos, e o coronavírus foi a mais recente. Não seria a hora de tais mudanças chegarem também as tradicionais campanhas políticas?

Desde os fins do coronelismo, do cabresto, das eleições indiretas e da ampliação do direito civil ao voto, os tempos eleitorais vem se moldando, passando por ajustes sistemáticos aqui e ali, mudanças legislativas e adequações em seu “modo de ser”, contudo, a política como tal, da participação popular, tem se limitado. Comícios, reuniões, caminhadas e carreatas fazem parte dela; outras situações, mais formais, como sabatinas e debates, ocorrem com menos frequência – isso, onde e quando ocorrem. E assim vinham se seguindo as campanhas desde a redemocratização do Brasil, em 1988. Essa era a rotina comum a cada dois anos nos milhares de municípios e
localidades brasileiras. O verbo foi sim conjugado no passado, pois o presente mostra a saturação desse estilo mais tradicional e as necessárias mudanças, imediata e de longo prazo, para as práticas eleitorais.

O coronavírus mudou, em menos de seis meses, todas as relações sociais ao redor do mundo. Um vírus mortal, espalhado com uma velocidade não vista antes, forçou adequações no modo de viver de mais de 6 bilhões de pessoas. Escolas fechadas, ciência correndo contra o tempo, sistemas de saúde sobrecarregados e disparada no uso de ferramentas online passaram a ser realidades duras, mas comuns. Porém, 2020 já reservava, antes da pandemia, seu espaço na história como um ano eleitoral. Logo, a eleição também deveria mudar. O que fazer? Adiar? Postergar o sufrágio? Estender mandatos? Todas foram possibilidades ponderadas pela justiça. A aceita, porém, tratava do adiamento do calendário eleitoral. Cada estado e cidade, garantidas pelo Supremo Tribunal Federal e a Constituição, tiveram sua liberdade em editar e publicar decretos quanto as melhores formas de enfrentamento a pandemia. O distanciamento social foi apontado pela ciência como a melhor forma de prevenção da disseminação do vírus. Assim feito, os decretos, em praticamente todo território nacional, seguindo o resto do mundo – dentre suas particularidades – constituíram medidas para manter a prevenção. Porém, chegado um nível de estabilidade em determinadas áreas, com processos cíclicos e graduais de reabertura, municípios afrouxaram suas decisões. Com a chegada do período de campanha, a pergunta pairou no ar: como vão ser feitos os processos já conhecidos do jogo político?

Infelizmente, tantas alternativas foram exaustivamente pensadas para várias outras áreas, menos para a politica e suas formas de caminhar em época de eleição. Com o passar dos dias desde o início oficial do período – 27 de setembro – fica visível que a política não se adaptou como o contexto pedia. Houveram, e ainda há, sim, tentativas.  Candidatos investem pesado em meios online, como lives, interação em redes sociais e mídias digitais, contudo, perceberam que elas não tem o mesmo impacto que um comício realizado em praça pública – também, pudera. Quixadá, por exemplo, costumava botar mais de 20 mil pessoas na praça José de Barros nos comícios finais, enquanto grande parte desse público sequer tem acesso consistente a internet. As caminhadas e reuniões de bairro, que poderiam ser alternativas, acabam não sendo respeitadas pela própria população, que se descuida quanto ao distanciamento e uso de máscara, bem como pelas campanhas, que falham nesse ponto em comunicação.

A ideia do porta a porta, com os devidos cuidados; das reuniões de rua, com quantidade limitada de pessoas, em alternância com lives e espaços virtuais, devem ser pensadas para um futuro próximo. Temos de entender que o mundo mudou e que a política, sendo parte estruturante dele, deve mudar também. Os entusiastas da política de base – como este que vos escreve – se animam com a possibilidade dessa reconexão, onde o foco sai exclusivamente da militância e do fervor de campanha, para o escutar a rua, a casa, o trabalhador, e este retribuir com sua atenção e crivo.

Esta coluna tem a pretensão de ser colaborativa. Se crê que algum tema da política e dos acasos sociais são de grande relevância, entre em contato, terei o prazer de discuti-los com você e, a depender da conversa, virar assunto de nosso espaço.

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