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A (des)culpa do presidente

Foto: Evaristo Sá/AFP

Outrora, há não muito tempo atrás, era comum ouvir de um Bolsonaro deputado federal pelo Rio de Janeiro, que os problemas do país como um todo tinham um culpado: seu presidente – não importasse quem ocupasse a cadeira, fosse de FHC a Temer, de quem Jair chegou a ser aliado. Hoje o jogo de culpa se inverte: todos os dias escutamos de um Bolsonaro presidente que a culpa por todas as mazelas tupiniquins é de deputados, senadores, ministros do Supremo Tribunal, governadores, prefeitos, da tia da cantina, do seu Zé da padaria, mas nenhuma culpa cabe ao alecrim dourado que nasceu no campo sem ser semeado. Afinal, Bolsonaro, quantas desculpas vai dar pela culpa que carrega?

Sim, pois, desde que passou a ocupar o cargo máximo da República, esse parece ter sido absolvido de todas as suas responsabilidades, deveres, poderes e importância. Não que essa última realmente não tenha diminuído – na verdade, diminuiu muito, mas em razão unicamente do acéfalo que temporariamente ocupa tal posição. Se antes no País uma pessoa tinha o poder de mudar tudo com uma canetada, como diziam, hoje essa caneta – que o próprio Bolsonaro já ameaçou usar em várias ocasiões – parece ter perdido a tinta. Mesmo que isso se repita de várias formas desde 2019, a situação ficou escancarada com a negligência com a pandemia do Coronavírus. O presidente parece não ter o mínimo de consciência de suas atribuições e teima em atrapalhar medidas postas por governadores, por exemplo. Ao invés de ser a figura aglutinadora, que suspenderia as disputas políticas e ideológicas durante o combate à Covid-19, ele insiste em medir forças, não com os próprios governadores ou prefeitos, mas sim com a Constituição do País, levando ao STF pedidos absurdos que não lhe cabem.

As negativas dos ministros da mais alta corte do país servem para alimentar a prerrogativa de Bolsonaro de que ele está de “mãos atadas” e que o presidente da República “não manda em nada”. Óbvio que não mandará naquilo que não lhe é atribuído ou que está consolidado, como o caso da Carta Magna da nação. Esse cenário alimenta a irresponsabilidade de Jair no poder, mas também sua narrativa, que por sua vez, move uma massa que está completamente cega, seguindo um ídolo ao abismo. Essa disputa com a justiça, com a Câmara e prefeitos e governadores que são, no mínimo, responsáveis com a vida, também é uma jogatina política que o presidente faz: sua sanha é conseguir poder, mesmo que atropelando os outros poderes da República, não à toa suas constantes ameaças sublinhadas de golpe – ou alto golpe – e a crescente defesa e até tentativa de imposição de Estado de Sítio para que o executivo Federal mande e desmande, como se estivéssemos em uma guerra.

Bolsonaro aposta no caos e quem ainda não percebeu isso ou é cumplice ou está completamente alheio a situação dramática que o Brasil vive. A “desculpa” de Jair, uma hora ou outra, vai esfacelar como todo o seu governo, seja pela futura CPI da Covid, seja pelos movimentos advindos das ruas ou pelo sufrágio do próximo ano. Ela dará lugar a “culpa” que esse presidente teve pela ruína do país. Brasileiro, cuidado, muito cuidado, pois o vírus continua circulando, e um certo verme continua governando.

Uma ótima semana e bom trabalho, classe trabalhadora.

Esta coluna tem a pretensão de ser colaborativa. Se crê que algum tema da política e dos acasos sociais são de grande relevância, entre em contato, terei o prazer de discuti-los com você e, a depender da conversa, virar assunto de nosso espaço.

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