Home Terezinha Oliveira Bordados: Traço cultural e fator social

Bordados: Traço cultural e fator social

O bordado surgiu a partir da costura que, por sua vez, decorreu da necessidade de proteger o corpo contra o frio, a chuva, insetos e espinhos. Foram tecidos fios extraídos de plantas e/ou usadas peles de animais ligadas por fibras vegetais através de agulhas de ossos. O manuseio dessas peças e outros elementos naturais como as sementes, frutos e cascas, aliados à criatividade de mulheres e homens das cavernas, provocou o surgimento da mais antiga das Artes – o Bordado; cuja função é ornamentar tecidos com desenhos aplicados com fios em diferentes materiais.

Desde o período paleolítico o Bordado manual faz parte da cultura de todas as sociedades; as mostras de peças desse período se perderam devido ao desgaste rápido dos materiais usados. O Bordado registra os costumes de cada lugar, comunica vivências e sentimentos através de figuras e letras. Na Antiguidade a corte egípcia exibia ricos bordados em fios de ouro em seu vestuário, como atestam os desenhos nas tumbas no Vale dos Reis; edificações da Grécia mostram esculturas trajando túnicas com barras bordadas. No sec. IV a.C. a China bordava em sedas e gazes. Na Índia os animais e flores eram as figuras mais comuns nos bordados. O traço comum dessa fase é a elitização do Bordado, restrito às classes abastadas. Os ocidentais se interessam pelo Bordado apenas no sec. VII. Nos séculos seguintes sua produção nos mosteiros e abadias foi crescente. Também as damas da nobreza se dedicavam ao belo artesanato. No século XVI, difundiu-se bordar cenas semelhantes a pinturas, reproduzindo temas religiosos, históricos e armas, brasões, escudos e pendões bordados a cores e em ouro e prata. Sendo a Itália um celeiro de várias artes, seus bordados influenciavam o resto da Europa. Na Idade Moderna, com o surgimento de fábricas de linhas em 1880, o bordado chegou às roupas comuns.

Aliada à função decorativa, as peças se tornaram personalizadas por meio de letras, brasões e outros símbolos. Surge o Bordado à Máquina, mas não suplanta a beleza das peças manuais. Diversas são as finalidades e os pontos aplicados; além de roupas para homens e mulheres de todas as idades, conjuntos de cama, mesa, banho e enxovais infantis.

Se a elite bordava por distração, em muitas casas simples a atividade contribuía para o sustento da família. No Ceará alguns Município são reconhecidos pela produção de Bordados que atraem turistas; é o caso de Maranguape, Itapajé e Quixeramobim. Em nosso Município a produção atual e o número de bordadeiras vêm declinando. Até as décadas de 50 e 60 existiam várias Agências de Bordados sempre com muitas encomendas; algumas vindas de longe. Artesãs da Cidade e da zona rural e vinham receber os tecidos “riscados” e as linhas na Agência, onde retornavam depois de concluído. Nessa ocasião eram pagas e mais uma vez recebiam o material dos próximos trabalhos. As Agências eram empreendimentos privados, sem qualquer vínculo com órgãos públicos. Entraves surgidos no mercado levam ao fechamento de muitas Agências pela concorrência das peças industrializadas a custos menores e, consequentemente mais acessíveis ao consumidor.

O Movimento de Promoção Social criado em 1977, pela então Primeira Dama Zilá Carneiro, incluiu as bordadeiras entre suas prioridades. Com apoio do Governo Estadual através dos cursos ofertados no Centro Social Urbano, inaugurado em 13/06/1979, aprimorou a produção do Grupo que hoje representa Quixeramobim nas feiras interestaduais e foi premiado pela perfeição de suas peças e tem o nome de “Mão de Fadas”. Outra entidade que congrega bordadeiras é a Casa do Artesão. O Programa Estadual de Artesanato por meio da CEART reconhece a contribuição de Quixeramobim no cenário do Bordado manual cearense e o potencial local nos permite ir mais longe; é preciso manter a qualidade a menor custo; inovar modelos através de coleções voltadas aos jovens e aos adultos e principalmente ao turismo cultural com representações dos ícones locais – Conselheiro, Boi de Reisado, Inscrições rupestres e Vaqueiros.

O resultado certamente será positivo com a ampliação de oportunidades de trabalho e melhoria de renda no Município. Conquistar a mão de obra jovem é o desafio maior, pois não ocorreu a transmissão entre gerações que assegura a identidade cultural, Daí é preciso que as Organizações civis e as Secretarias Municipais da Assistência e da Cultura e Turismo se unam para encontrar estratégias que resultem na reafirmação deste veio produtivo tão fértil e pleno de significados.

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