Home Elistênio Alves Fui vizinho de João Alfredo e não sabia

Fui vizinho de João Alfredo e não sabia

Morei por algum tempo na rua Eliziário Pinheiro, a famosa rua da Coelce, onde se localiza o tradicionalíssimo Clube Recreativo dos Funcionários da Coelce (que vale outro texto só pra ele), e foi uma experiência muito importante para minha vida.

Digo isso, pois foi a primeira residência que morei depois de sair da casa da minha mãe, uma fase, digamos, de adaptação, de entendimento e amadurecimento pessoal. Por certo, a primeira impressão foi de que o trecho era muito movimentado e a rua muito barulhenta, muito mesmo.

Aos sábados, principalmente aos sábados, a rua era agitadíssima. As festas da Coelce sempre foram um fator para movimentar o pedaço, além disso, os moradores dali já se acostumaram a ouvir muita música. O som era o dia todo, todo final de semana.

Mas, na sexta, e às vezes aos domingos pela manhã, impreterivelmente se escutava um som diferente. Não zuada, era uma música diferente, uma espécie de som de reisado, às vezes cantoria, às vezes um bregão pesado, e isso sempre me intrigou. Eis que descobri que era vizinho de Seu João Alfredo e não sabia. Bem na esquina, no cruzamento da Rua da Coelce com o início do Buraco da Gia, estava o local de vida de João Alfredo.

Sempre topava com ele pela manhã ou final da tarde. Alto, com semblante forte, bigode bem fino, cabelo sempre muito bem penteado e uma cadeira de balanço. Ah, sempre com gente sentada pela calçada, tamboretes espalhados, prosa e música, sempre música. Vez por outra tinha até forró ao vivo, boca da noite, sanfona e pandeiro.

Via aquilo sem saber da origem daquela figura que pouco depois descobri, lendo o livro do amigo Danilo Patrício, ‘Textos Nômades – Festeiros do Tempo’, quem era Seu João Alfredo. Na verdade João Alfredo é João Barbosa da Silva. Uma figura à parte da cultura popular local e pouco lembrado ou pouco prestigiado, mas um dançante de boi, um realizador de festa, um verdadeiro festeiro do tempo.

Seu João morreu em 2021 e sempre lembrei dele pelo som do seu bar, pelo bom gosto e pela peculiaridade de sua vida e seu jeito. Nunca me perdoarei por não ter sentado com ele na esquina para prosear. Mas, certo que a vida da gente é feita de experiências, essa foi importante e lembrarei para sempre. Sempre!

Ao seu João Alfredo, muita luz no seu reisado da eternidade.

Foto: Reprodução/SerTão TV

Confira mais artigos na coluna de Elistênio Alves AQUI.

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