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Dois Josés por nossa saúde

No ‘Coração do Ceará’ pulsaram sentimentos de dedicação, sonhos, ética e amor em uma corrente para a interiorização da Medicina com humanização – esta foi a missão abraçada pelo médico JOSÉ DE PONTES NETO. Dentre os jovens discípulos do Dr. Pontes destacou-se outro Zé – JOSÉ ALVES DA SILVEIRA -, que dedicou seus conhecimentos para cuidar da saúde da população deste grande Sertão.

Os familiares e alguns colaboradores do Dr. PONTES falam com emoção daquele período da fundação do Hospital de Quixeramobim, construído pelo DNOCS com a mão de obra dos “cassacos” da seca de 1958 e inaugurado em 1964. A Ditadura Militar cassou o deputado estadual JOSÉ DE PONTES NETO e o fez prisioneiro político recolhido à cela do 23 BC. Ao ser liberado pelo governo militar para cumprir pena em regime aberto após salvar a vida do oficial graduado da 10ª Região Militar, Dr. PONTES escolheu o município de Quixeramobim como domicílio e, ao chegar, empenhou-se em colocar em funcionamento o Hospital que hoje leva seu nome. Essa unidade de saúde tornou-se a missão de um “sacerdote” que não usava batina, mas um jaleco branco; não trazia terço ou rosário, mas estetoscópio e bisturi. Carismático, ele conduziu uma equipe formada por médicos, freiras da Congregação de Santa Tereza e vários outros auxiliares.

Mas o Mestre da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, afastado de sua cátedra pelo golpe de 1964, tinha outro sonho – interiorizar o ensino da medicina. Quixeramobim viabilizou esse intento – formou, em 1968, a primeira turma de doutorandos, treinados no estágio rural, pioneiro do Brasil, através do convênio CRUTAC/UFC. O prestígio e carisma do Dr. PONTES oportunizou a vinda de seus colegas especialistas da Faculdade de Medicina, que nos fins de semana contribuíam com o aprendizado dos estagiários e atendiam a população oferecendo consultas e cirurgias de forma gratuita. Esse espírito de colaboração se estendia às famílias da cidade, que hospedavam em suas residências os jovens estudantes, uma vez que o Hospital não tinha recursos assegurados para mantê-los. Assim trabalhou em Quixeramobim o professor de Medicina Cirúrgica e membro do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, o cidadão José de Pontes Neto.

Nesta época vem se agregar à equipe mais um José: o estudante de medicina José Alves da Silveira, que se tornou o “filho” do mestre-médico, a quem era dedicada toda confiança no trabalho clínico-cirúrgico e que, depois tanto, contribuiu com a saúde e a política em Quixeramobim. Um traço constante na caminhada do cidadão, homem público e médico ZÉ ALVES era servir a todos, principalmente aos mais desafortunados. A humildade e o contínuo interesse em aprender para alcançar cura dos enfermos pode ser compreendida em uma frase que ouvi quando ele se dirigia a estudantes de enfermagem: “É preciso aproximar-se e sentir o cheiro do paciente, indagar suas vivências; mas alguns médicos mantêm tal distanciamento que deixa de perceber indício dos males que penalizam aquele doente”. Assim viveu o paraibano que Quixeramobim não esquecerá.

Os Pontes Netos, os Zé Alves honram o juramento de Hipócrates, mas hoje são raros os abnegados que fazem da medicina um sacerdócio. Por suas lutas em meios às adversidades e o humanismo de suas ações é que dedico aos dois Josés esse simples texto na passagem do 18 de outubro – Dia do Médico.

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1 comentário.

  1. Realmente, esses dois médicos deixaram um legado que Quixeramobim jamais esquecerá. Dr José Alves viveu para os seus pacientes, sua vida foi totalmente dedicada aos menos favorecidos. Tanto que deixou de cuidar da sua saúde pra se dedicar integralmente ao seu ofício. Um médico humano, que sentia empatia com a dor do outro, onde muitas vezes doou seu próprio sangue pra salvar a vida de seus pacientes. Infelizmente, hoje são poucos os que honram essa profissão tão linda, tão necessária…Com certeza, hoje, esses dois Josés, que tanto fez por Quixeramobim, estão colhendo os frutos de tudo que plantaram aqui.

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