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Editorial: O problema da segurança pública em Quixeramobim

A explosão do número de homicídios no Ceará evidencia as falhas na política de segurança pública adotada pelo governo. As consequências sociais e econômicas dessas falhas têm sido sentidas não só nos grandes centros urbanos, mas também nas regiões interioranas do Estado. Em Quixeramobim e em outros municípios do Sertão, o aumento da violência tem prejudicado o comércio, elevado os gastos com saúde pública e ceifado as vidas de centenas de jovens.

Em um passado não tão distante, viver no interior era sinônimo de paz e tranquilidade. O número de roubos e assassinatos era diminuto. Mas, com o passar dos anos, a violência rompeu as fronteiras das grandes cidades e se alastrou pelo interior, fazendo homens, mulheres, crianças e idosos reféns da insegurança. As ruas pacatas deixaram de ser espaços de circulação de veículos e pessoas, e se tornaram o palco de sucessivos crimes sangrentos.

Os municípios de Quixadá e Quixeramobim se tornaram expressões do caos na segurança pública estadual. De janeiro até a terceira semana de novembro foram registrados 17 homicídios na Terra do Conselheiro, ou 21,7 assassinatos para 100 mil habitantes. Em Quixadá, os números são ainda mais assustadores. No mesmo período, ocorreram 33 homicídios, ou 38,1 assassinatos para 100 mil habitantes, quase o dobro que em Quixeramobim.

Em comparação com o mesmo período do ano passado, os dois municípios verificaram queda no número de mortos. Em 2016, Quixadá registrou entre janeiro e novembro um total de 47 homicídios, 14 a mais que o número atual. No mesmo intervalo de tempo, em Quixeramobim ocorreram 19 assassinatos, 2 a mais que o contabilizado hoje. Apesar dessa redução, as taxas de homicídios permanecem acima do número – de 10 mortes para cada 100 mil habitantes – recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Em Quixeramobim, somente nos últimos sete dias foram registrados dois homicídios, um assalto à mão armada, um sequestro, dois furtos e um roubo à residência. Uma dessas ocorrências se deu na noite do último sábado quando agricultores do distrito de Manituba foram surpreendidos por bandidos que invadiram suas casas, levaram quantias em dinheiro e um veículo da família, que foi posteriormente encontrado próximo ao açude Fogareiro.

No domingo, foi a vez dos moradores da zona urbana se chocarem com a crueldade dos criminosos que agem na região. No início da tarde, pescadores que residem nas proximidades da Via Paisagística encontraram o corpo de uma jovem de 19 anos, que estava desaparecida há três dias, parcialmente enterrado e em avançado estado de decomposição, no leito do Rio Quixeramobim.

Apesar de grave, o problema da segurança pública em Quixeramobim está presente na agenda de diferentes gestões há cerca de duas décadas. No início de 2014, a Câmara de Dirigentes Lojistas chegou a produzir um documento por meio do qual propôs o desenvolvimento de diversas ações de combate à violência no município, dentre elas a criação de uma secretaria de Segurança Pública, o que, como se sabe, não ocorreu.

Se nada for feito, o que está difícil pode se tornar ainda pior. Para que isso não se suceda, o governo do Estado precisa agir e aumentar o efetivo policial e o número de viaturas a serviço da Polícia Militar (PM), que hoje só conta com dois veículos. A boa notícia é que, em breve, câmeras de monitoramento deverão ser instaladas em Quixeramobim e outros 37 municípios cearenses, o que facilitará o trabalho da PM.

Nessa empreitada, o município também pode colaborar com o Estado. O primeiro passo nesse sentido deve ser a criação de um Plano Municipal de Segurança Pública que apresente metas anuais bem definidas, como a redução do número de assaltos e de homicídios com armas de fogo. A partir deste plano seria criada a Guarda Municipal, que patrulharia as áreas comerciais, e a Secretaria de Segurança Pública, integrada aos órgãos de Segurança do Estado.

Quixeramobim também poderia criar uma espécie de “banco de horas”, por meio do qual a prefeitura compraria os dias de folga dos policiais militares. Apesar da crise financeira, as autoridades constituídas poderiam estabelecer parcerias com os comerciantes e grandes empresários do município com o objetivo de obter recursos para viabilizar este projeto. Os policiais do “banco de horas” seriam enviados para patrulhar o interior, onde a polícia, hoje, não está presente.

Também é preciso fazer uso da tecnologia e criar um banco de dados público com informações sobre lugares e horários em que os crimes ocorreram, para que a população esteja alerta e o trabalho da Polícia seja mais ostensivo nessas regiões. A partir desse banco de dados, os distritos seriam divididos em “zonas”. Aquelas com elevado número de ocorrências contariam com um maior número de policiais.

Além de todas essas possíveis ações, as lideranças do município precisam fazer um esforço político para que a delegacia volte a funcionar em regime de plantão aos fins de semana. É importante também restaurar áreas de lazer e investir na manutenção e ampliação da iluminação pública, já que diversas pesquisas revelam quedas de até 30% na criminalidade quando ações desta natureza são tomadas.

Editorial do Repórter Ceará

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