Com o título “Dobrai, ó sinos do Natal!”, eis a crônica do escritor quixeramobiense Bruno Paulino referente ao período festivo de Natal. Confira:
Saí a caminhar no fim da tarde em Quixeramobim. O céu estava nublado, o clima convidativo. As ruas quase paradas, num ritmo sonolento. No percuso nada de extraordinário presenciei, apenas um garoto que caiu da bicicleta e uns cachorros que chafurdavam um monte de lixo.
Não vi muitas referências ao Natal nas lojas nem nas casas, nem sei se as pessoas se lembram que é época de festejar Cristo ou o fim do ano. Encontrei alguns conhecidos pelo caminho, e não passamos daqueles cumprimentos de sinal fechado; o fato é que apenas de passagem não se desenrola uma conversa, é preciso pouso pra conversar, ter tempo de se desarmar. Às vezes, a cidade se encasmurra igual a alma da gente.
Acho que me torno sempre mais sentimental nessa época do ano. Não sei explicar. É como se sentisse falta de algo. Falta de uma inocência perdida, falta de certa fé inabalável no mundo, na humanindade, na pureza; realmente não sei do que sinto falta.
Falta da missa do galo que nunca fui, não sei. Talvez possa ser.
Será que o meu problema com essa época do ano é que apenas esteja sempre me deslumbrando mais com a árvore, a ceia, o panetone, os presentes e as luzes, que de fato, preparado o espírito para celebrar o Deus menino que nasceu na manjedoura e morreu na cruz aceitando o seu humano destino para nos redimir?
Já era noite quando cheguei em casa e meus sobrinhos pequenos, Alice e João conversam ansiosos sobre a noite de natal e o amigo secreto; e inocentes não conseguiam aceitar e entender como Papai Noel poderia deixar uma criança sem presente? Fiquei comovido com aquele diálogo das crianças, e foi como se uma centelha viva de esperança renascesse em mim.
– Dobrai, ó sinos do Natal!
Cantei em feitio de oração o verso do poeta Jadér de Carvalho.
Bruno Paulino
Professor e escritor de Quixeramobim
Repórter Ceará




