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Os amores de Gabriel

Com o título “Os amores de Gabriel” eis uma história real do Dia dos Pais publicada pelo jornal O POVO hoje, 12. Confira:

Todas as noites, Gabriel, seis anos, pede que os pais lhe contem uma história para ele dormir. Então, Silvio e Sandro contam, para o filho, uma história de que a vida é bela. E é uma história atrás da outra, desde quando, depois de dez anos juntos, eles começaram a visitar pensamentos, abrigos e ausências em busca de um filho. Foi uma longa conversa, por sentimentos, até Gabriel.

Sandro Thomaz Gouveia, 50 anos, professor e diretor do Instituto de Cultura e Arte da Universidade Federal do Ceará, ia à frente: sempre teve a vontade de ser pai, já era proteção e cuidado. E Antônio Silvio Marinho Queiroz, 41 anos, administrador, sempre foi “muito independente e muito prático”; ainda desconhecia que a paternidade lhe tomaria parte do sono, dos planos, enfim, da vida, para lhe dar outra vida inteira.

Entre a certeza e a dúvida sobre uma escolha que mudaria tudo o que pensavam saber, “Gabriel surgiu como uma surpresa”, ultrapassa Sandro. Era dezembro de 2013 e Sandro se recuperava de uma apendicite, na casa da mãe, no Acre. A 180 quilômetros, Gabriel, com dois anos, nascia mil vezes, entre a necessidade e a precisão. “Nem cama, ele tinha”, lembra-se Sandro.

Sem condições de criar Gabriel, a família do menino, conhecida de muitos anos, ofereceu a criança para Sandro. Era uma chance única, ele entendeu, porque voltaria para Fortaleza e só havia um ônibus, por dia, entre Rio Branco e a desmundo onde Gabriel vivia. Por telefone, Sandro deu a notícia e o ultimato a Silvio: se não adotassem o menino, ele nunca mais tocaria no assunto.

“Aí, sabe aquele coisa que você não pensa e diz: traga, traga, traga! E desliguei o telefone”, conta Silvio. No redemoinho entre o sim e o não, Silvio pensou que aprender a amar Gabriel (e ele aprende, de forma incondicional) era um amor, ainda maior, que ele poderia dar a Sandro. “Duas horas depois, ele me liga: olha teu celular. Era Gabriel nos braços dele, bem pequenininho, bem magrinho… Aí, eu não aguentei, comecei a chorar. Porque foi a melhor coisa que fiz na minha vida!”, transforma-se Silvio.

O processo legal de adoção durou mais de dois anos. Já o processo de ser pai é o aprendizado de uma vida. Sandro e Silvio aprendem a dançar para a festa do colégio e a inventar realidades. E, todo dia, aprendem um pouco de paciência, de coragem, de sentimentos, do outro. Quando Sandro e Gabriel viajaram, por exemplo, Silvio ligou para dizer que “o ogro” estava com saudades: “Estou sentindo falta de não ter direito a dormir na hora que eu quero!”, declarou.

E todo tempo é tempo de tornar a vida mais bela, os três ensinam a cada um, sem muita explicação. Seja no tempo do aniversário, quando Sandro guarda os doces e os heróis em um quarto, para Gabriel descobrir; seja no tempo de Gabriel contar a própria história. Ele já sabe que Sandro e Silvio sempre vão estar ali, quando ele não conseguir descer do alto de uma árvore, e fez morada nos dois pais.

“Ele mesmo aprendeu a preencher alguns vazios da vida dele de forma muito bonita. Ele diz: eu lembro que fiquei na barriga da minha mãe. Aí, quando eu nasci, vocês estavam lá para me trazer”, ouviu Silvio. “Ele sabe que pode viver e pode voltar pra gente”, completa Sandro.

Repórter Ceará – O Povo Online

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