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População de Pereiro sofre com seca e racionamento de água há 5 anos

“Já faz cinco anos que a gente vem sofrendo sem água nas torneiras. Os invernos têm sido fracos, o açude continua seco e o jeito é comprar água para tudo. Para beber, para o banho e limpeza geral da casa. Quem mora aqui enfrenta muitas dificuldades”. O relato é da dona de casa Maria de Lourdes Martins, moradora da cidade serrana de Pereiro, na região do Vale do Jaguaribe.

O município de 16 mil moradores, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é um dos que enfrentam desde 2014 grave crise de desabastecimento de água, no Ceará, ao lado de Boa Viagem, nos Sertões de Canindé. Atualmente, a Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) atende menos de 20% dos moradores da área urbana.

Os moradores da cidade de Pereiro enfrentam racionamento há cinco quatro anos. O rodízio faz com que a água só chegue às torneiras uma vez por semana, e ainda assim, nas áreas baixas, pois nas casas em bairros altos, como nas unidades populares, a falta de água é permanente. As famílias de baixa renda sofrem ainda mais. Dependem dos caminhões-pipa e precisam comprar água potável para beber por um preço que para a maioria é salgado.

Crise hídrica

O colapso de água modificou a paisagem urbana. Nas esquinas e calçadas há caixas d’água de polietileno com torneiras que recebem o recurso hídrico distribuído por oito caminhões-pipa da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec). Dezenas de veículos do tipo estão presentes nas ruas da cidade. É um vai e vem intenso. Homens com baldes nas mãos, levando água para os moradores.

Operação

A maior parte das famílias de Pereiro depende da água distribuída por caminhões-pipa. A água vem de longe, do Castanhão, distante cerca de 100 km. Na zona rural, o serviço é feito pela Operação Pipa, sob o comando do Exército brasileiro. São 19 veículos. Escolas, hospital e outras instituições públicas recebem água por meio de dois carros contratados pela Prefeitura, além de um caminhão-pipa do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Não tem sido fácil a vida dos moradores de Pereiro. Na zona rural, as cisternas que acumularam água da chuva já secaram. “A nossa salvação são esses caminhões. Aqui tá tudo seco, açude, barreiro, falta água para os animais e para a gente beber, cozinhar e tomar banho”, dispara o agricultor Alexandre Costa.

Na cidade, as famílias acordam cedo para retirar água das caixas. “Se não vier logo, pode acabar”, pontuou a aposentada Francisca Medeiros da Silva. “Aí só no outro dia”, complementa.

O jeito é comprar água de melhor qualidade para cozinhar os alimentos e beber. Um balde de 20 litros, por exemplo, custa R$ 2. Vem de um poço chamado de Tomé Vieira. Mil litros custam R$ 20. Os caminhões faturam alto e um deles têm seis entregadores. “A água é limpa, tratada”, garante o vendedor.

Maria Madalena Santos tem casa no entorno do Açude Adauto Bezerra. Quando o açude está cheio a água encosta no muro do quintal. “Era bonito ver tudo cheio, mas faz tempo que está assim, seco, sem uma gota d’água”, lamentou.

A Cagece perfurou sete poços tubulares na bacia do Adauto Bezerra, mas a vazão é reduzida, suficiente para atender apenas 20% dos usuários. Sem água nas torneiras, muitos moradores decidiram solicitar o corte no fornecimento.

Uma alternativa esperada há mais de dois anos é a adutora que deveria fazer a captação de água no Rio Jaguaribe, na localidade de Mapuá, e ser bombeada por estações até vencer a altura da serra e chegar à Estação de Tratamento de Água (ETA) da Cagece. A obra foi contratada pelo Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs), mas a empresa não concluiu o serviço.

Canos instalados ao lado da rodovia que dá acesso a Pereiro foram quebrados e estão com interligações incompletas. O Dnocs fez nova licitação e contrato. Uma placa recém-instalada indica que a obra da adutora foi retomada no último dia 3 com o custo de R$ 4,9 milhões. Novos canos já chegaram à cidade. “Tivemos reunião recente com o diretor do Dnocs, aqui na cidade, que disse que a adutora, finalmente, será concluída em até seis meses”, frisou o chefe de Gabinete da Prefeitura, Luciano Santos. “Precisamos da conclusão dessa obra”.

O diretor da Cagece, Hélder Cortez, disse que a obra da adutora é esperada há mais de dois anos e que é a melhor solução para acabar com a crise de abastecimento de Pereiro.

“Se faltar água no Orós, vamos fazer poços no leito do Rio Jaguaribe, em Mapuá”, explicou. Por lá, também vai passar a água oriunda da transposição das águas do Rio São Francisco, no futuro, ainda incerto.

Repórter Ceará com Diário do Nordeste (Foto: Honório Barbosa)

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